segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O Notório

Despertou seco como seus velhos potes
Tomou cedo o seu café amargo, cheio de amarguras.
Com a mão na xícara se achegou à janela,
Tocou a madeira secular, como sua alma
Lembrou do choro das filhas, hoje longe

O sol nasceu.

Vislumbrou apático a beleza da aurora, como um cego, ou um louco.
Ouviu no rádio a mesma canção, que soava fúnebre

O tempo passou,
Passou ele munindo a enxada

Capinou o roçado,
a cova,
o roçado.

Deitou no chão,
Vestiu a terra, como quem veste a mortalha
E chorou,
Chorou como nunca.
Queria que o seu último verso soasse triste, eternamente.

Virou brisa.



Luiz Felipe Leal

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Noite

Luzes coloridas
Carros velozes
Mendigos na calçada
Piada no boteco
Uísque na boate
Maços de cigarro
Comprimidos químicos
Vídeo pornô
Tornozelos femininos
Espelho para bêbados
E eu aqui, exalando o perfume da noite.

Murilo Abreu

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Conversinha

Diga aí,
Diga ao meu amigo ao teu lado,
Que com ele me destravo,
Estrago, na fumaça do cigarro de cravo.
E deixa um abraço,
Para os que querem me abraçar
Na paz de uma mesa de bar.

Luiz Felipe Leal

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Estações

Nesse verão inventarei um novo amor.
Para voltar a sentir o cheiro da primavera, pisar nas folhas secas do outono e receber a brisa fria do inverno.


Murilo Abreu