Eu e ela na calçada suja de palavras não ditas.
Eu, ela e tudo aquilo de que nos privamos todo o tempo. Insanos. Coitadinhos. O tempo levará nossos sonhos e nosso furor adolescente e em alguns verões mais adiante nos perderemos na vontade de não ser.
Ah sim, eu e ela na calçada de ricas formas intocáveis como a fumaça do cigarro que fumava, como nunca fazia. Olhei para as pedras da casa da frente, cantei meus versos de improviso e recebi-os de volta, sem uso. Meu coração, que se reparte sempre quando diluído em sua presença agridoce, batia calmo. Queria, como sempre, dizer tantas coisas que sutilmente se traduziram num sorriso.
Entrelaçamos os braços para fingir uma proximidade que, talvez, não exista.
Os beijos foram poucos e meus.
Os beijos meus foram muitos.
Ainda na calçada, estou sentado relendo os versos e corrigindo a voracidade que talvez a incomode, refletindo sobre as incoerências do tempo.
Ás vezes quero me desfazer desses velhos dias mas percebo que já são parte de mim.
A parte que com as manchas do tempo sobre as tristezas, agora esquecidas, se tornou bela.
Bela demais.