domingo, 31 de agosto de 2008

Esquina

A tragicidade das nossas frases de ontem, verdades de pontas afiadas, me fizeram temer (a mim) (n)o futuro.
Eu, que já não ansio por aquelas grandes mudanças que lhe contei outro dia, na calçada, escuto o som dos furacões que, por certo, vão te levar de mim no seu melhor sorriso.

Aprendo, lentamente, a saborear minhas perdas insolúveis e constantes. Vou aos poucos enxergando que, pelas minhas mãos ou pelas do mundo, um caminho novo com novas pedras será traçado para mim.

Esqueço o inesquecível. Perco também os apertos no peito, a amargura das horas, a fome de ir embora. Minhas memórias transcedem a mente e escorrem na pele. Perco-as no banho, na chuva. Deixo-as na toalha do banheiro público, misturadas com perfume e suor.
É como lhe disse: não sei ser amado. Sou amigo das dores que me fazem palavras, doce mortalha.

Nesses dias tão nossos de indiferença e bom humor, sou paz. Minhas incertezas são tantas quanto os nossos sorrisos infindos, e só me resta querer que sigamos tropeçando nos bilhetes rasgados e olhares alheios até o entardecer.

Ainda não tenho hoje, as respostas às perguntas de ontem.

Ainda sou o mesmo, querida.
O mesmo.

domingo, 24 de agosto de 2008

Amor

No vacabulário dos índios não tem a palavra amor.
Para eles não existe a propriedade privada.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Fingidor

Querido amigo,

Hoje me lembrei daquele bar de esquina torta, vida torta, em que costumávamos ir.
As saudades me entorpeciam a alma e como há tempos não, parei para sentir.
Naquele instante em que o corpo esfria e a lágrima não desce, cansei os olhos nas horas e na fumaça dos dedos, que suavemente me envolvia, imóvel. Sentado na calçada, as vozes ao fundo, mente vazia, rotina sem nexo. Cheirava a passado.

Não sei o que tem alcançado seus olhos, mas sei que talvez nunca saiba.
Não sei por onde tem andado, mas só às vezes percebo que tudo isso é ausência.
Os dramas me caem bem.

Amigo, quero me valer da coragem-epifania-saudade que agora explode dentro de mim e dizer-te que planejo o futuro como o passado, sem planos, mas que não há como fingir que o tempo não passa, enquanto ancoramos a vida num incerto amanhã que não chega.

No presente ingrato de correrias sem-fim não há cores que desfarcem a falta.

As conversas e risos pedem arrêgo.
E eu também.

domingo, 10 de agosto de 2008

Entretanto,

depois de mil planos sem fim, como quem rasga as teias do futuro e despenca num abismo, voltei.

Voltei àqueles mesmos rostos amáveis, dissolvidos em suas amarguras brandas de adolescente.
Àqueles mesmos rostos ignorantes e fúnebres, alheios e tolos, assim como o meu.

É quando me deito, cansado e só, e enfim se fecham as pálpebras do dia, que retomo meus sonhos quase certos de outrora e vejo que vão desbotando no horizonte, ao longe.
Entre as frias horas de drama bobo e sofrimento forjado, enxergo que não caibo na felicidade-tese dos outros e que a minha permanece em retalhos.

Amigo, você não sabe mais, eu sei.
Sigo nos dias derivados dos vinhos de ontem buscando o amanhã.
Sigo assim,
feliz protagonista de mim.