Senegal, setembro de 2007
querido amigo,
viver é de fato como o sol poente, belo e fugaz. Aqui, sentir saudades das pessoas que amo, como você, a mim tornou-se ordinário como respirar a poeira eterna deste chão. Vivo colhendo migalhas do afeto que me dirigem, e sinto-me como nunca areia que desliza na ampulheta, em busca do fim.
Quando abri meus olhos e vim para este mundo de seres tão esquecidos, sedentos por olhares e inconcientes da Sodoma que os envolve, jamais pensei ver o que vi. Pois nem mesmo agora que minhas mãos, então sujas, tocam o papel para falar-te, posso crer que tantos vivem de costas pra esse cenário, negando suas fatias de culpa, e construindo suas riquezas sobre estas ruínas, aumentando as muralhas de concreto entre o meu mundo e o seu.
Querido meu, não só as suas saudades, mas também as daquela que amo, e sabes quem, me esmagam o espírito e alargam o abismo entre nós.
Hoje, meus sonhos de outrora são memórias velhas, pois meu eu cansado, agora sonha em poder sonhar. Fazer planos aqui, são meras manisfestações de egoísmo frente a um povo que está para cada sol nascente como o último de suas vidas.
Os sorrisos, não-raros, são sinceros, assim como cada gesto inocente ou cruel. A maldade de uns se aproxima do inferno, a despeito do bem que se opõe com igual teor.
Os povos desta terra não sabem do que passam, porém seus corações sentem afinadamente as perdas que sofrem, que são constantes, mas não banais. Daí explica-se o valor do sol.
Quanto a isso, amigo, queria também falar-te, "de se entregar o viver". Como fazíamos há tempos na nossa juventude eterna.
Fica dito também que o amo indefinidamente, como o disse inúmeras vezes, e me orgulho por tê-lo dito. Pois não sei ser este o último grão de areia que cai para mim, como para tantos que hão de deitar nas sombras desta terra para sempre, antes do nascer de um novo dia.
distante,
Luiz
sábado, 29 de dezembro de 2007
de, para.
segunda-feira, 24 de dezembro de 2007
Fadiga
Então é natal...E o ano novo vem vindo.
Vamos continuar mastigando a inércia das datas?
Murilo Abreu
quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
Pó
Sabe amigo,
De ti sentirei saudades, eu sei
No dia em que vier o vento
E te levar sedento
Pro teu futuro.
Chorei.
Chorei nossos abraços e desabafos mortos
Nossos encontros em caminhos tortos
Chorei seu sorriso de jornal.
Dobrei-me ao meio
Calei meus versos
Amarelei
Virei passado.
Luiz Felipe Leal
domingo, 16 de dezembro de 2007
Eu
Hoje o eu lírico sou eu, como sempre. Com minha paixão egoísta. Carregando desde cedo, o fardo da liberdade mental. Que me guia e me faz viver de acordo com meus próprios princípios. Enlaçado pelos dogmas, mas no fundo sempre voltado para minha consciência. Que me enche de jovialidade e de ideais utópicos. Faço das minhas dúvidas minha única certeza, pois prefiro a pureza das dúvidas ao peso de uma certeza. E não me venha com verdades perfeitas, pois já experimentei as mentiras desse mundo. Caminhando, cantando, vivendo. Isso, sempre no gerúndio. Pois um leonino como eu, prefere viver nessa eterna ausência a uma presença sem brilho.
Murilo Abreu
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
A
Amigo amado,
Aviso agora, aliviado:
Agradeço amar-me, amar-te
Agradeço a amizade, a alegria, a arte,
as ações admiráveis
Amigo, agradeço ainda aquele amanhã,
Ano após ano
Aonde avistarei as antigas aventuras,
alucinações, apegos, apelos, Aruanã.
Ah! Amigo árduo,
Amor amargo
Aguardo ansioso amanhãs assim.
Amigo, agora acabo,
Aí assumo:
Abrigo-te aqui. Acredite.
Luiz Felipe Leal
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
.
Já estou desgastado dessa minha busca por essa perfeição de vida. O dia tem que estar sempre cheiroso e limpo, as palavras sempre claras, as idéias sempre conectadas com a realidade. Cansei desse T.O.C. que tenta tocar o mundo inteiro. Quanto mais me elevo, mais abaixo de todos me encontro, juntamente com minhas filosofias de vida mais rejeitadas. Estou faminto, faminto por pureza. Chega de identidade falsa, preciso colher meus grãos espontaneamente. Me ajude a tirar essa pedra que carrego sobre meus ombros cada vez que viajo nas minhas imperfeições. Deixe-me ser medíocre, deixe-me ser normal. Armo-me diante da praga do “quero ser” e me ajoelho implorando pela volta do “sou”. Porque sou assim, sem influências de ídolos inatingíveis ou endeusamento de seres irreais, sou assim, só. Como todos e todas. Sem querer ser nada nesse momento. Nem mesmo grande, como em meus sonhos mais freqüentes. Quero ser somente só. Pois somente só viverei a arte do “eu”, limpo e sem borrões.
sexta-feira, 7 de dezembro de 2007
O ócio
Salve-me Deus, da rotina.
Dos passos mortos no corredor
Das palavras pobres, sem sentimento
Das brigas sem ódio
Do ócio, e da falsa paz
Salve-me Deus, da rotina
Da ausência do cheiro
Dos jornais matinais
Das risadas cativas, com álcool
Do domínio, do controle
Salve-me Deus, da rotina
Salve-me, e me deixe mentir
Que vivo, e que sei viver
Luiz Felipe Leal