terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Setembro,

Querida,
Pensei já não restar montes que eu não houvesse escalado ou valas por onde não me meti. Enganei-me.
Ao sentir-me de volta à sua presença febril e seu ar provocante sinto que esvai-se meu poder de esquecer-te. Cheguei hoje a remexer seus sentimentos em mim, dados por esquecidos. E como com brinquedos velhos tentei achar a cor que em outros tempos possuíam. Não sei se era com eles que brincava ou com memórias desbotadas, assim como o medo que me aflige de voltar a desejar-te. Memórias do que nunca vivemos e do que jamais viveremos.
Pergunto-me porque me deixei levar de novo pelo teu brilho. Porque consenti admitir pequenos retrocessos na minha existência tranqüila que anseia o novo.
Perco-me nas trocas de sorrisos dúbios. Nada dúbios. O espelho me desencoraja. Rasgo as cartas que nunca me enviou, e não me atrevo a subir ao topo, pois a superfície me parece agradável.
Sonho com trechos sem-nexo de uma hipótese tão minha. Ouço ao fundo um soar fúnebre de um querer que me diz o porquê de meus sonhos serem hipóteses. Encorajo-me. Mas vejo que agora você não está por perto.
Sou despertado por uma vinheta de telejornal. Piso em chão gelado. Durmo sozinho. E deixo que o mar desfaça mais uma vez os castelos de areia que construímos hoje.
Só o que eu peço é que haja areia e haja mar, e nós nos veremos no dia seguinte. É a nossa sina. Entreguemo-nos a ela.