segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Cálice

Sonhos profundos molhavam sua mente, como raro sentia, e os raios de sol vieram trazê-lo ao novo dia. Era domingo.

O quarto em pedaços, que eram dele e não eram, rejeitava a beleza da aurora que surgia esplêndida lá fora.
Há tempos não conseguia mais despertar e seguir deitado na cama, como havia feito muito e bem. Se lembra que acordava sem medo do correr das horas e sem abrir os olhos permanecia vivendo seus sonhos, considerando hipóteses, deflagrando corações. Costumava sorrir.
Hoje, acordava vestido com a melancolia de sempre, que não era dele, mas ele próprio. Vestia os chinelos, paralelos sob a cama, e ainda envolto em seus cobertores brancos caminhava insone pelo corredor.
Ignorava o espelho.
Os cabelos desarrumados lhe faziam bem, a barba não fazia. Era domingo.

Tentou enxergar sentido em sua coleção de ausências, na ignorância das cartas que não sentia mais, nas lembranças sem cor. As cores ficaram com ela. Ficaram com ele as dores.
Hoje, enquanto ele mastiga o silêncio, ela sorri com vinho tinto e amigos nobres.

Era domingo. Dormia.
Os dias viriam pra encobrir as feridas, como manda o tempo, mas seus sorrisos inférteis seriam o rosto da falta.

Velhos estigmas não o abandonam. Insistem ecoando vadios por-entre as horas, mas não podem ser sentidos em apertos de mão.


É segunda.