segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Caras dores

Abra os olhos, de novo. Abra esse verbo de adeus.

Nossas conversas não foram tolas como achamos que fossem e o suspiro alfórrico finalmente chega. É hora de os pontos se fazerem pontos e nossas cicatrizes frágeis de tantos enganos se transformarem sutilmente num fim sem remorsos.
A despedida, não sabíamos, foi há tempos. Os lenços brancos amarelam no chão amargando a dureza dos milhões de murros em ponta de faca, a beleza do parir de pôres-do-sol e de um raiozinho fino e bobo que ainda nos une, num vago sonho de primavera.

Estou para poucas letras, amigo. Mas quero que saiba que a falta destrói as velhas pontes de nós e apaga as velas como quem morre.

Um brinde a isso que fica.
Um vinho tão velho quanto o nosso discurso para comemorar esse espetáculo vencido que nos tornamos... mas o peito ainda arde.
Ainda amo-lhe com todos os ódios e a lucidez ilusória das saudades de domingo.
E se os lenços são velhos, então choremos as velhas lágrimas, falemos sobre os velhos tempos, nos apertemos nos abraços mais velhos.

Não quero engavetar esse álbum se ainda é tão cedo. As tantas páginas em branco são janelas largas dessa metáfora do inesperado que é o futuro.

Abra os olhos, de novo. Feche esse verbo de adeus.

E volte,