sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Entre vírgulas, ponto.

Amarrado aos mil nós de cores que são todos em mim, imerso em cada sorriso falso de amigo e em colo de mãe. Cada bloco da alma se decompõe no meu momento mais íntimo e a vida continua a correr brava e sempre, como um trem sem estação. Romper de luzes em datas comemorativas, embriagar-se escondido, hipocrisia por hábito, amar sem dizer. A rotina consome cada fôlego novo, que a cada dia desponta magnífico mas mingua até o cair da noite.

Sou eternamente espera. Do amigo das mãos apertadas, do amor que exala canções. Sou tudo que me envolve, desde nosso último beijo. Tenho tido tempo para sonhar. Tempo para reviver minhas hipóteses, aliviar o medo das rugas, ser o pó que nos tornamos. Pena.

Desejo mandar notícias que penetrem seu peito frio numa noite tranquila.

Estou em mim, como sempre. Rememorando nossos velhos toques e percebendo que tudo aconteceu na sutileza de um fim-sem-marcas. Você se foi como quem morre dormindo e assim sequer pudemos perceber o vão que se abria sob nossas pernas, então juntas, desvendando os novos caminhos velados e distintíssimos que traçamos para nós. E assim, como quem desata as mãos e rompe um destino, não nos enxergamos mais.

Chorei, intensamente e por vezes, quando te carregava em mim: um fardo de vícios, amores brutos, nós rastejando pelo chão, retorcidos de dramas, rindo alto, dançando desejos de um soar tão nosso quanto se pode ser. Numa vastidão de sentires que tento alcançar na memória, mas que são impossíveis de serem tocados novamente.
Também assumo, não hei de perder nada nisso: tenho saudade de nossos beijos negados, da cinematografia forjada, do tocar de corpos vendo seus olhos borrados, o vestido preto chegava quase à ponta dos pés descalços que tocavam o chão. Meus dedos de garoto tolo e sentimento de homem, seus lábios de letras quentes, de que fui cativo. Meus fantasmas.

Eu sei, me disseram: todo fim, por fim chega.

O som do vento engole o meu pranto, por onde passo, inconvicto.
Desfaço-me dos velhos vultos e de tudo que me cansava em você, livre para seguir em frente mas começo a sentir que não há peso maior do que o peso do nada.